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Mesmo após aborto recorrente, mulheres têm até 70% de chance de ter uma gestação tranquila

Especialista da SBRA explica as principais causas e orienta os casais

sobre a melhor forma de encarar o problema

 

Engravidar e perder o bebê nos primeiros meses de gestação é bastante frustrante para o casal. Estima-se que, dependendo da idade, pelo menos 25% das mulheres já sofreram o drama de perder um filho em um aborto espontâneo. Para essas mães, o desafio se torna ainda maior quando acontece mais de uma vez consecutiva, ocasionando o que os médicos chamam de aborto de repetição ou aborto recorrente.

 

Do ponto de vista emocional, a perda gestacional provoca um impacto muito grande nos casais que desejam ter um filho, mas ela não é uma sentença de que o sonho deverá ser esquecido. O coordenador do setor de reprodução humana da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), Rui Ferriani, que também é membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), explica que, mesmo após a mulher ter sofrido até três abortos, se ela tiver em torno de 35 anos de idade, ainda haverá 60 a 70% de chance de ter uma gestação tranquila.

 

Segundo o médico, estudos mostram que 5% das mulheres têm dois abortos consecutivos e apenas 1% costuma enfrentar três perdas gestacionais desse tipo. Nessas pacientes, o impacto emocional é muito pior do que em uma mulher que não consegue engravidar. “Quando a paciente vive essa perda mais de uma vez, ela vai ficando mais insegura e ansiosa a cada gravidez, causando um estresse muito grande para o casal”, explica.

 

Conforme explica Ferriani, após um aborto espontâneo, o ideal é haver um intervalo antes de iniciar um novo processo de gestação, sempre observando o limite de idade da mulher. Nesses casos, os especialistas nem costumam fazer uma investigação da causa.

 

Entretanto, quando a incidência é maior, o ideal é realizar uma investigação para tentar identificar os motivos dessas perdas recorrentes. De acordo com o médico, é frequente a chance de concepção natural, independentemente de qualquer intervenção médica, mas existem alguns fatores a serem considerados, entre eles a idade da mulher e o número de abortos. “Antes de fazer novas tentativas, é preciso buscar ajuda especializada e identificar as causas desses abortos recorrentes. Essa investigação não é muito grande e também nem sempre é conclusiva. A maioria das vezes a gente só consegue detectar a causa em torno de 40% a 50% dos casos”, diz.

 

A seguir, o especialista destaca quatro causas mais comuns para a ocorrência do problema. Confira.

 

Alteração genética do embrião – Em uma mulher jovem, 50% dos embriões têm alterações genéticas e o aborto é praticamente uma seleção natural. Se a mulher tem em torno dos 40 anos, até 70% dos embriões formados têm alterações genéticas. Então, essa perda pode ocorrer independentemente de qualquer atividade que a mulher realizar.  Portanto, para descobrir porque o aborto se repete, os médicos sempre vão procurar as causas genéticas dos pais por meio do exame do cariótipo.

 

Alterações no útero – Existem alterações no útero, adquiridas ou congênitas, que podem provocar o abortamento. Entre os problemas que podem igualmente interferir estão os úteros que não têm crescimento adequado (hipoplásicos), miomas uterinos (especialmente os que deformam a cavidade) e os septos uterinos. Estes fatores geralmente serão identificados por meio de uma ultrassonografia em três dimensões.

 

Alterações na tireoide – Os distúrbios da tireoide (hipo e hipertireoidismo) também podem ser causadores de abortamento. Neste caso, é muito importante realizar avaliação médica antes de engravidar, controlando os níveis de TSH, além de realizar pesquisas de anticorpos contra a tireoide e exames para o diabetes, que é outro fator hormonal relacionado à aborto recorrente.

 

Trombofilia – No caso das trombofilias adquiridas (em que a paciente passa a fazer anticorpos contra ela mesma), é preciso observar que esse quadro favorece o surgimento de uma trombose. Uma causa comum de abortos recorrentes é a síndrome antifosfolípide, que favorece a trombose e piora a história obstétrica da paciente. Neste caso, a investigação é obrigatória e será realizada com poucos exames, tais como os dos anticorpos anticardiolipina, beta-2-glicoproteína e o anticoagulante lúpico. Já no caso das trombofilias herdadas, a investigação só se justifica em casos de pacientes que tenham histórico pessoal ou familiar de trombose.

 

E quando não há causa justificada?


Nos casos em que o médico não identifica uma causa para o problema, pode-se acrescentar mais algumas orientações relacionadas aos hábitos e estilos de vida. “É recomendado melhorar a alimentação, não fumar, não usar drogas, evitar exposição a agentes químicos e agrotóxicos, evitar o álcool e controlar o peso. Vale destacar que o repouso excessivo pode piorar o quadro ou provocar uma trombose. O ideal é fazer um repouso moderado nos casos de sangramento genital durante a gravidez e ameaça de abortamento”, recomenda Rui Ferriani.

 

Em relação ao melhor profissional para realizar o acompanhamento desses casos de abortos recorrentes, o médico ressalta que o ideal é que a abordagem do casal seja multidisciplinar. “A ocorrência desses abortos é uma experiência muito traumática e provoca sérios impactos emocionais. Por esse motivo, o casal precisa de uma assistência completa, incluindo o apoio de um psicólogo”, reforça.

 

A SBRA ressalta que, com o auxílio de técnicas de reprodução assistida, é possível identificar algumas possíveis causas do aborto recorrente por meio do diagnóstico genético pré-implantacional (PGT) – que pode ser realizado durante o tratamento da fertilização in vitro (FIV). O exame é indicado para identificar transferência de alterações genéticas de um dos progenitores para o embrião podendo beneficiar mulheres que sofrem com abortos de repetição. Saiba mais clicando aqui

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