Risco é alto e exige mudança de comportamento, alerta neurocirurgião
Ter um Acidente Vascular Cerebral (AVC) já é uma situação de grande risco. Mas o que muitos pacientes desconhecem é que as chances de um segundo AVC são significativamente altas, e também frequentemente, ainda mais perigosas. Dados da American Heart Association mostram que um em cada quatro AVCs ocorre em pessoas que já tiveram um episódio anterior. Especialistas apontam que a sobrevivência ao primeiro evento não é o fim da luta, mas o início de um novo desafio: impedir a recorrência.
“Depois de um primeiro AVC, o foco precisa ser a prevenção secundária. E isso não significa apenas seguir uma cartilha de orientações médicas, mas mudar completamente a forma de encarar a própria saúde. É uma virada de mentalidade”, afirma o neurocirurgião Victor Hugo Espíndola Ala.
Estudos indicam que os primeiros 90 dias após um AVC compõem uma janela de vulnerabilidade crítica, quando o risco de recorrência é ainda maior. Sem o devido acompanhamento, o perigo persiste a longo prazo. Publicação do Lancet Neurology aponta que o risco de um segundo evento chega a 8% no primeiro ano e ultrapassa 20% em cinco anos, caso o tratamento não seja seguido de forma adequada.
De acordo com o especialista, um dos principais obstáculos no combate ao segundo AVC é a baixa adesão ao tratamento, muitas vezes interrompido ainda nos primeiros meses. “Até um terço dos pacientes abandona a medicação em até seis meses. O maior desafio não é o diagnóstico em si, é o comprometimento do paciente com a continuidade do cuidado, e isso só se resolve com educação, conscientização e apoio da família.”
Cuidados:
Controle rigoroso da pressão e glicose
Uso correto dos medicamentos
Alimentação equilibrada
Atividade física leve/moderada
Abandono do cigarro
Acompanhamento com equipe médica
O médico explica técnica prática para reconhecer os sintomas é o método SAMU, que orienta avaliar quatro pontos principais:
1. Sorriso: “Peça para a pessoa sorrir e observe se há assimetria ou queda de um lado do rosto. Isso pode indicar uma paralisia facial.”
2. Abraço: “Solicite que a pessoa levante os dois braços. Se houver dificuldade em levantar um dos braços ou se ele cair involuntariamente, isso pode indicar fraqueza muscular.”
3. Mensagem: “Peça para repetir uma frase ou cantar uma música. Caso a fala esteja arrastada ou com dificuldade para pronunciar palavras, isso também é um sinal de alerta.”
4. Urgente: “Se qualquer um desses sinais estiver presente, procure ajuda médica imediatamente, ligando para o 192, número do SAMU.”
“Essas ações parecem simples, mas têm poder decisivo na redução do risco. Cada uma delas contribui para afastar a ameaça de um novo AVC”, explica o médico.
O médico ainda ressalta que o papel dos familiares é essencial no processo. “Quem cuida de alguém que sofreu um AVC precisa entender que o acompanhamento não é só físico, e sim emocional, educativo e, muitas vezes, motivacional. Não basta sobreviver ao AVC, é preciso impedir o próximo.”