No dia 17 de novembro, Carlos Fonseca promove uma reunião inédita entre descendentes brasileiros e africanos de Francisco Olympio, um dos “retornados” narrados pelo autor na obra finalista do Prêmio Jabuti Acadêmico
Em pleno mês da Consciência Negra, uma história que atravessa o Atlântico e mais de um século ganha um novo capítulo no Rio de Janeiro. No dia 17 de novembro, o jornalista, diplomata e escritor Carlos Fonseca organiza, no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), uma videoconferência que deve reunir, pela primeira vez, dois ramos da mesma família separados pela escravidão e pelo retorno à África: os descendentes de Francisco Olympio da Silva.
Finalista do Prêmio Jabuti Acadêmico em 2025, o livro “Os retornados”, de Carlos Fonseca, recupera a saga de milhares de escravizados libertos que, ao longo do século XIX, deixaram o Brasil e formaram comunidades brasileiras no litoral africano. Entre eles está Francisco Olympio da Silva, nascido na Bahia, que por volta de 1850 embarcou para a África em navio da família Cerqueira Lima, conhecida pelo tráfico de escravizados.
Segundo a tradição oral, Francisco teria se dedicado inicialmente ao próprio comércio de escravizados até meados da década de 1860. Pressionado pela presença da marinha inglesa, abandona o tráfico e passa ao comércio de bens e à agricultura. Nesse momento, rompe simbolicamente com o passado: deixa o sobrenome Silva, associado ao tráfico negreiro, e passa a usar apenas Olympio.
Sua trajetória se desdobra em dezenas de netos – entre eles, Sylvanus Epiphânio Olympio, que décadas depois se torna o primeiro presidente do Togo e figura central na independência do país. Em janeiro de 1963, Sylvanus é assassinado em um golpe de Estado, levando parte da família ao exílio em países vizinhos, como Gana e o Benim. Em 1962, ele chegou a ser fotografado ao lado do presidente francês Charles de Gaulle, símbolo do protagonismo político alcançado por aquela família de origem brasileira.
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| Olympio (ao centro) com o presidente francês, Charles de Gaulle, em 1962 |
A história dos Olympio é uma entre tantas dos chamados “retornados”: libertos que decidiram deixar o Brasil em busca de suas origens, de melhores oportunidades ou fugindo da perseguição em um país que apenas começava a emancipar seus cativos. Ao se instalarem em áreas costeiras, criaram comunidades que hoje se espalham por Gana, Nigéria, Benim e Togo, onde traços culturais brasileiros seguem vivos na arquitetura, na culinária e em festejos como o carnaval e a dança da burrinha, embalados por cantigas em português.
Apesar do vínculo afetivo com o Brasil, a maioria desses retornados perdeu o contato com parentes que ficaram deste lado do Atlântico. Até recentemente, só se conheciam três famílias com ramos conectados entre Brasil e África: Da Rocha, Alakija e Bamboxê Martins, com presença sobretudo na Nigéria e na Bahia. A pesquisa de Carlos Fonseca em “Os retornados” revelou um quarto caso: os Olympio do Togo teriam descendentes vivendo hoje no Rio de Janeiro.
A tradição oral do ramo brasileiro – que já não carrega o sobrenome Olympio – conta que Francisco teria deixado parentes na Bahia, que mais tarde migraram para a então capital do Império. Gerações depois, esses descendentes seguem interessados em reconstruir sua história e vêm tentando, sem sucesso, estabelecer contato com os parentes africanos.
Esse encontro inédito deve, enfim, acontecer no dia 17 de novembro. A videoconferência, organizada por Carlos Fonseca com a colaboração de membros dos dois ramos, reunirá do lado brasileiro parentes no auditório da ABI, no Rio de Janeiro, para acompanhar em tempo real o diálogo com os descendentes africanos de Francisco Olympio.
Em um mês dedicado à reflexão sobre racismo, memória e identidade negra, o encontro entre os dois lados da família Olympio vai além da emoção do reencontro. Ele concretiza, na tela de uma videoconferência, o que “Os retornados” revela em suas páginas: a história ainda pouco conhecida de brasileiros que voltaram à África, deixaram marcas profundas em sociedades de lá e mantêm laços invisíveis com o Brasil – laços que agora começam a ser reatados, nomeados e celebrados.
Sobre o livro
Em “Os retornados”, Fonseca combina rigor documental e narrativa envolvente para resgatar memórias muitas vezes silenciadas, oferecendo uma nova perspectiva sobre a diáspora brasileira e seus desdobramentos históricos. “Ao reconstituir a história dos retornados brasileiros na África, Carlos Fonseca produziu uma obra de beleza e fôlego ímpares. É ao mesmo tempo um documentário, um registro histórico e uma belíssima e competente reportagem, resultado de mais de vinte anos de viagens, entrevistas, pesquisas e convivência próxima com a maioria dos personagens que povoam este livro (...) Essa fascinante e surpreendente história preenche as páginas desta obra escrita com maestria, que prende, seduz e encanta os leitores da primeira à última linha” - Laurentino Gomes, autor do best-seller 1808.
Sobre o autor
Carlos Fonseca é diplomata e escritor. Com uma carreira marcada pelo interesse em relações internacionais, memória e diáspora africana, desenvolveu um extenso trabalho de pesquisa para escrever Os Retornados. A obra marca um importante passo em sua trajetória como autor e é fruto de anos de investigação histórica e entrevistas em países africanos de língua francesa e inglesa.
Serviço: “Os Retornados”, de Carlos Fonseca
Editora: Record, disponível nas principais livrarias físicas e plataformas digitais
Gênero: História/Narrativa jornalística
Temas: Diáspora africana, pós-escravidão, identidade, cultura afro-brasileira, Brasil-África
Amazon: www.amazon.com.br/Os-retornados-Carlos-Fonseca-ebook/dp/B0D4SB1D34/
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