Bio Caldo - Quit Alimentos
Sesc

Parceria entre produtoras rurais leva alimentos orgânicos de qualidade à mesa de brasilienses

Ivone Machado e Maria do Carmo Pereira são vizinhas e moram no Assentamento Chapadinha, no Lago Oeste, onde cultivam alimentos diversos sem o uso de agrotóxicos ou fertilizantes químicos


Enquanto muitas pessoas reclamam de ter de conviver com vizinhos, há quem aproveite essa experiência para estabelecer uma relação de confiança, amizade e até mesmo algo mais próspero economicamente. Um exemplo dessa relação pode ser encontrado no Assentamento Chapadinha, área localizada no Núcleo Rural Lago Oeste, próximo a Sobradinho e ao Parque Nacional de Brasília. Lá vivem as produtoras rurais Ivone Ribeiro Machado, 62 anos, e Maria do Carmo Souza Pereira, 66, que atualmente cultivam e fornecem a centenas de brasilienses alimentos sem o uso de agrotóxicos sintéticos ou fertilizantes químicos.

A trajetória das duas como produtoras rurais começou a ser esboçada no ano de 2005. Naquela época, Ivone e a “irmã Carmen”, como é popularmente conhecida Maria do Carmo, aguardavam pelo fracionamento e a distribuição da área do assentamento e nutriam a vontade de produzir alimentos para serem comercializados nas feiras do Distrito Federal, ao mesmo tempo em que poderiam levar uma vida com dignidade e tranquilidade a poucos quilômetros da zona urbana do DF. Esse desejo uniu as duas produtoras e suas respectivas propriedades, divididas por apenas uma cerca.

As duas iniciaram, então, uma parceria que perdura até os dias atuais e que, além de garantir gargalhadas, boas histórias e cultivos de qualidade em suas propriedades, o Sítio Grande Conquista, de Ivone, e o Sítio Três Crioulos, da irmã Carmen, ainda corroboram para preservar a biodiversidade existente nos arredores do Parque Nacional de Brasília. Antigamente, a área em que está situado o Assentamento Chapadinha era uma grande lavoura de soja, o que acabou prejudicando a diversidade biológica da região.

A curta distância entre as propriedades, somada ao engajamento da dupla nas ações promovidas pela Associação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Assentamento Chapadinha (Astraf) fortaleceram o laço de amizade e permitiram que as produtoras pudessem trabalhar juntas no campo e também na comercialização de frutas, verduras, legumes e hortaliças. “Uma virou a bengala da outra. Eu ajudo a irmã Carmen e ela me ajuda. A gente produz, colhe, leva os alimentos no mesmo carro e vende na mesma banca”, conta Ivone. “A gente senta, conversa, altera alguma coisa e coloca o negócio para funcionar. Damos a cara para bater”, acrescenta irmã Carmen.

Cada propriedade conta com uma área de 10 hectares, o que segundo a dupla permite o cultivo de várias culturas ao mesmo tempo. O plantio dos alimentos sempre é feito com divisão de trabalho, para que uma não cultive algo que a outra já esteja produzindo. Por exemplo: enquanto Ivone planta brócolis, cujo o tempo colheita após a semeadura varia entre 75 e 100 dias, a irmã Carmen aguarda alguns dias para iniciar o plantio da mesma variedade e, nesse intervalo de tempo, cultiva outras culturas. Recentemente, Ivone colheu maçãs em pleno Cerrado.

A organização exibida pelas produtoras é o resultado de um trabalho de longo prazo e foi viabilizada graças às mobilizações feitas pela Astraf, ainda no início do assentamento, em 2005. O Sebrae no Distrito Federal, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater/DF), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Fundação Banco do Brasil foram algumas instituições que firmaram parceria com a associação e começaram a apoiar as dezenas de famílias que se instalaram na região. “Do Sebrae eu lembro bem. Eles chegaram em 2010 por meio do Produção Agroecológica Integrada Sustentável (PAIS) – solução que melhora a qualidade de vida de trabalhadores rurais promovendo inclusão social e geração de renda para comunidades do campo –, que de lá para cá foi muito importante para nós. Eles conduziram os primeiros passos, realizaram vários cursos e fizeram com que nós pudéssemos melhorar de vida”, garante Ivone.

O apoio da instituição foi fundamental para que os alimentos produzidos nas duas propriedades fossem reconhecidos pela sociedade brasiliense. Além das capacitações, Ivone e irmã Carmen participaram de eventos apoiados pelo Sebrae, como a AgroBrasília e o FestFlor. Elas ainda chegaram a integrar uma missão técnica de produtores para o município de São João da Aliança, no estado de Goiás, onde expandiram seus conhecimentos, sobretudo conheceram técnicas de plantio e irrigação.

Mas o diferencial do negócio se consolidou mesmo em 2013, quando as produtoras, orientadas pelo Sebrae, adaptaram suas técnicas de cultivo e começaram a produzir alimentos orgânicos. Na época, as duas receberam a certificação de Organizações de Controle Social (OCS), conferida pelo Ministério da Agricultura a grupos, associações, cooperativas ou consórcios de produtores rurais. A certificação é um documento de conformidade de produção orgânica participativa e contém todos os dados do produtor e da propriedade, incluindo o número de cadastro, meio pelo qual é possível encontrar, no site do Ministério, o produtor e a lista de produtos que ele cultiva.

Em 2018, novamente com apoio do Sebrae no DF, Ivone e irmã Carmem receberam a certificação IBD título que garante um diferencial de mercado ao produto comercializado e mostra ao consumidor que aquele alimento foi produzido em equilíbrio com o solo, o meio ambiente e a cadeia produtiva. O selo vai na embalagem do produto e atesta confiabilidade e procedência, fatores que permitem a expansão da comercialização. “O Sebrae se prontificou em nos ajudar a conseguir essa certificação. Não sabíamos dessa iniciativa e isso nos ajudou bastante”, diz irmã Carmen.

As duas produtoras nutrem um carinho especial com os colaboradores do Sebrae que atendem aos produtores rurais do assentamento. A dupla é só elogios ao trabalho desenvolvido, que permitiu sobretudo a participação nas compras públicas dos programas Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) de Aquisição de Alimentos (PAA). “Éramos cegas e eles abriram os nosso olhos”, assegura Ivone.

Com a o início da pandemia ocasionada pela Covid-19, as produtoras precisaram se adaptar devido ao fechamento das feiras no DF. A dupla logo começou a utilizar canais digitais para receber pedidos e fazer entregas no Lago Norte, Asa Norte, Asa Sul, Vila Planalto, Sudoeste, Cruzeiro, Setor Militar Urbano, Candangolândia, Park Way e Núcleo Bandeirante. As entregas no início da pandemia eram feitas semanalmente e somavam mais de 100 locais diferentes. Com o relaxamento nas restrições a dupla não parou de fazer delivery, mas apenas alterou os prazos para algumas regiões do DF. “Foi necessário aprender a usar Instagram e WhatsApp. E não é que a gente tem aprendido?”, diz irmã Carmen.

As duas ainda voltaram a participar de feiras devido ao agravamento da pandemia na capital federal. No entanto, Ivone e a irmã Carmen seguem trabalhando diariamente para levar comida de saudável e de qualidade à mesa dos mais de 3,5 milhões de brasilienses. “Queremos que a comida das pessoas seja decente e repleta de amor. Enquanto vida tivermos, vamos trabalhar aqui nos nossos quintais para garantir isso. O que plantamos tem um certificado de qualidade, mas, sobretudo, tem amor e isso ninguém tira de nós”, completam as produtoras.

Serviço – Sítio Grande Conquista e Sítio Três Crioulos

Contato: 61 9999-1905 e/ou 61 99658-1322

Instagram: @sitio_grande_conquista
Edilayne Martins

"Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida." (Bob Marley)

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem