J.A. Puppio*
A falta de responsabilidade no cuidado com o planeta e o
manejo da água potável, atualmente, devem gerar problemas gigantescos nos anos
que se seguem para a sobrevivência dos seres humanos neste planeta. As guerras
convencionais e conflitos armados que sempre estiveram presentes no cotidiano
da humanidade possivelmente se estendam na luta pela água. Conforme pesquisa
divulgada no ano passado pela Organização das Nações Unidas para Educação,
Ciência e Cultura (Unesco), uma parcela de 26% da população global não tem
acesso à água potável, o que corresponde a 2 bilhões de pessoas.
Os sábios do passado mais distante já lembravam que as
variações climáticas e ecológicas também deviam estar influindo como agentes em
nossos destinos, portanto, não é recente a noção de que as interferências no
ecossistema trazem inevitavelmente complicações que frequentemente se tornam
sérias, como a escassez hídrica ou alagamentos e enchentes. O comportamento
global recorrente de descuido já está criando inclusive levas de migrantes
climáticos, que procuram deixar suas terras improdutivas, onde não é mais
possível cultivar alimentos por falta de água, e nunca é demais frisar que onde
ela não existe, não existe vida.
A história nos conta que grandes civilizações passaram por
amplas mudanças no seu cotidiano por causa do desequilíbrio ambiental, e a
dúvida é saber exatamente o que está reservado para nós nos próximos anos.
Hoje, entramos numa fase de respostas do planeta, mas diversos avisos já tinham
sido emitidos sobre as mudanças climáticas. O desequilíbrio ambiental está mais
evidente que nunca, mesmo assim, parte das lideranças da população mundial
insiste em virar a cara para o problema ou enfiar a cabeça numa cova como os
avestruzes fazem quando sentem ameaças ou iminência de perigo.
É preciso reforçar a todos a ideia de que não há
desvinculação de todas as espécies de vidas, sejam da fauna como da flora. Elas
se entrelaçam e principalmente se sustentam com sua forte ligação ao solo e
água, se ajustando às variações climáticas. Esse elo milagroso natural quando
rompido traz consequências e faz os terráqueos sofrerem as consequências.
Lembrando o músico Guilherme Arantes em sua famosa canção há, na verdade, um
claro e grande paradoxo: “Terra, Planeta Água”. Vale ressaltar
ainda que o corpo humano é composto por dois terços de água e esta afamada
massa líquida cobre mais de 2/3 da superfície da Terra.
O fato é que não há inocentes quando não se toma cuidados em
toda sua amplitude com mudanças climáticas. O bicho homem pode entender que
nasceu para dominar a natureza ou que ela é algo diferente e separada dele,
porém o fato concreto é que homem e meio ambiente são como gêmeos siameses,
eternamente inseparáveis. Por consequência é preciso atenção e prudência em
qualquer ação geoambiental. Como disse certa vez o jornalista Joelmir Betting,
“a natureza não se defende, mas se vinga”.
Do ponto de vista geopolítico, há uma corrente de pensamento
no Brasil defensora da tese que se um dia um país estrangeiro ou bloco militar
invadir a Amazônia ou a região pantaneira seria mais em virtude dos recursos
hídricos delas do que pelas reservas minerais ou suas riquezas zoobotânicas.
Verdade ou não, as Forças Armadas brasileiras têm se capacitado há décadas
neste sentido, treinando suas brigadas de infantaria de selva e as brigadas de
infantaria de Pantanal para se interporem a qualquer aventura estrangeira. São
militares com grande destreza e aquacidade para atuação em ambientes
hidrográficos e lacustres, ou biomas semelhantes. Os guerreiros de selva e
soldados pantaneiros estão entre os melhores do mundo em suas especialidades.
Imprescindível para a existência do ser humano, este líquido
cobiçado é indispensável também na indústria e na agricultura. Nas fábricas a
água é o ingrediente fundamental para produção de energia gerada pelas usinas
hidroelétricas. A eletricidade na grande maioria das vezes é o que move o
maquinário fabril. É ainda absolutamente indispensável na limpeza do parque e
plantas industriais. Na lavoura, por sua vez, a água é imperativa para a
irrigação dos cultivos, que empregam algumas tecnologias especialmente em
regiões agricultáveis onde as chuvas são irregulares ou quase não existem.
Apesar dos desacertos enormes, o recurso também tem
despertado interesse de companhias pela importância desse bem comum da
humanidade (e não uma commodity, como a ONU classificou na
Conferência sobre a Água do ano passado em Nova York). Hoje, grandes
empresas têm tratado desse ativo poderoso fazendo o gerenciamento
principalmente para redução do uso, perda ou desperdício. Elas também têm tido
cuidados com o reuso de águas residuais para diferentes finalidades.
Inúmeras estratégias de manejo hídrico estão sendo
utilizadas com sucesso pelo planeta, mas ainda precisam ser bem mais
massificadas. Basicamente os esforços se intensificam para economizar dinheiro,
energia e poupar o meio ambiente. Há ações no meio empresarial para reduzir ou
minimizar a poluição e problemas resultantes de mal uso da água como também
para salvar ambientes aquáticos.
Esforços têm sido feitos, por exemplo, para economizar
energia no aquecimento, tratamento e bombeamento d’água. Inclusive, esse
líquido precioso passou a ser analisado com mais atenção para casos de
emergência como combate a incêndios florestais, secas e contaminações.
Recentemente, o Estado do Rio Grande do Sul sofreu os rigores das enchentes e o
problema ocorreu possivelmente por falta de uma operação e manutenção mais
criteriosas. A água é um bem para o consumo humano, mas também é essencial
cuidá-la bem.
*J.A. Puppio é empresário e autor do livro ‘Impossível
é o que não se tentou’.