Especialista explica que pacientes com autismo podem apresentar hipersensibilidade ao toque e ao barulho e a aromas por isso, precisam de um atendimento personalizado
A campanha Abril Azul, é o mês dedicado à conscientização do Transtorno do Espectro Autista (TEA). É importante abordar sobre o diagnóstico precoce e o respeito à diversidade, mas torna-se essencial manter os cuidados com a saúde bucal com idas ao dentista e profissionais qualificados. O tratamento odontológico de pessoas com TEA demanda atenção especializada, sensibilidade e estratégias personalizadas.
Segundo a odontopediatra Ilana Guimarães Marques, da IGM Odontologia para Família, pessoas autistas enfrentam diversos desafios ao irem ao consultório. “Questões sensoriais, comunicacionais e comportamentais estão entre os principais obstáculos. O barulho dos aparelhos, o toque de luvas e instrumentos, a luz forte ou até mesmo o cheiro do consultório podem ser extremamente incômodos”, explica.
As dificuldades, no entanto, não se limitam ao ambiente do consultório. No cotidiano, muitas famílias relatam obstáculos durante a escovação ou o uso do fio dental. “É comum que as crianças resistam a esses cuidados por conta de hipersensibilidade tátil ou oral. Por isso, criamos estratégias baseadas em adaptação sensorial, reforço positivo, uso de histórias visuais e, principalmente, respeito ao tempo de cada criança”, afirma Ilana.
Além disso, a troca dos dentes, que já costuma ser desafiadora para qualquer criança, pode ser ainda mais delicada para aquelas com TEA. “Orientamos os pais a explicarem visualmente o processo, a respeitarem o tempo da criança e a evitarem forçar a remoção do dente. Em alguns casos, alimentos macios, mordedores ou massagens gengivais com escovas macias podem aliviar o desconforto”, orienta a dentista.
Dicas para pais de crianças com TEA:
Apresente o dentista por meio de vídeos ou imagens antes da consulta;
Prefira horários de menor movimento no consultório;
Brinque de “ir ao dentista” em casa para familiarização;
Use escovas com texturas confortáveis e evite estímulos intensos (luz, som, cheiros);
Crie uma rotina fixa para a escovação com reforços positivos (adesivos, músicas);
Respeite o tempo da criança e envolva-a no processo sempre que possível;
Converse com o profissional sobre as particularidades do seu filho e, se necessário, agende uma visita prévia para ambientação;
Nos casos em que há resistência extrema e comunicação não verbal, a equipe pode adotar estratégias adicionais. “A imobilização protetiva leve, como o uso de cobertores com peso ou o apoio dos pais, pode ser necessária. Quando essas alternativas não são suficientes, avaliamos o uso de sedação consciente ou sedação medicamentosa ( neste caso com a parceria de um anestesista), sempre com o consentimento e acompanhamento da família”, explica.
Apesar dos desafios, a especialista reforça que é possível garantir um atendimento tranquilo e eficaz. “Nem sempre a adaptação acontece de imediato, mas com paciência, apoio familiar e profissional especializado, conseguimos evoluir positivamente. Elaboramos um guia próprio para facilitar essa adaptação e proporcionar uma experiência mais acolhedora para nossos pacientes autistas”, conclui a dentista.